Quadrilha

Ontem eu fui trabalhar e as tias da creche estavam ensaiando quadrilha com os pirralhinhos delas. Isso já foi o suficiente pra me aborrecer, afinal eu sou completamente contra quadrilhas compostas por dançarinos menores de 18 anos (ou maiores, mas emocionalmente instáveis) e vou explicar porque:

Nesta quadrilha de ontem, durante a fila de formação de pares, eu vi um menininho levantando a mão enquanto dizia:
- Tia, eu não quero dançar com ela. - e apontava pra menina do lado dele.
A tia, pessoa com mais noção de ética e desenvolvimento emocional humano do mundo, perguntou pro molequinho em questão:
- E com quem você quer dançar, Fulaninho?
- Com a Maria Eduarda! :D - respondeu o fedelho.

Então a tia colocou o molequinho pra dançar com a mini-piranha da Maria Eduarda como ele queria, né.
Nesse exato momento eu levantei da minha cadeira, fiz uma bolinha de papel com o relatório, taquei na cabeça do moleque e, usando toda a psicologia que eu aprendi não nos últimos 5 anos, mas sim nos últimos 23, disse:

-O QUE É SEU MERDA? TÁ ACHANDO QUE É O GIANECHINNI?
COM 5 ANOS JÁ TÁ ACHANDO QUE A SUA PICA É DE OURO?
DANÇA COM QUALQUER UMA AÍ E CALA A BOCA PRQ CERTEZA Q OS PRÓXIMOS 15 ANOS, PELO MENOS, VC VAI PASSAR "DANÇANDO" SOZINHO NO BANHEIRO DE CASA, SEU GORDINHO TORTO IDIOTA!

Aí eu acordei, né!
Acordei e ainda tava parada com cara de cu na minha cadeira e com o relatório no colo. Isso prq se eu sair por aí aterrorizando criancinhas é possível que me impeçam de pegar a merda do meu diploma no final do ano, coisa que eu não gostaria muito que acontecesse.
Mas resumindo: o motivo de eu ser contra as quadrilhas é prq não há razão alguma em antecipar a primeira rejeição de nossas vidas, o primeiro: "bububu, eu prefiro ela do que você, sai daqui." pros nossos cinco anos de idade.
E não venha querer saber mais de psicologia da rejeição do que eu dizendo que crianças de 5 anos nem se ligam nisso prq, embora nunca tenha acontecido comigo (nunca aconteceu na quadrilha com 5 anos de idade, né, prq dos 17 pra frente e fora de quadrilhas aconteceu todo dia), eu me lembro bem de ir dançar todo ano com o cu na mão de medo do meu par chamar a tia pedindo pra trocar.
Aí você, Dr Sala*, vai dizer q é prq eu sou pirada, q desde os meus cinco anos de idade meus padrões emocionais já eram muito mais exagerados do que o do resto do mundo, que os outros não sentem as coisas desse jeito, mimimi, momomo e eu vou te dizer: - vá chupar uma pica, Dr. Sala*.

Isso me lembra que a época dos 5, 6 anos é também quando as crianças começam a arranjar namoradinhos de brincadeirinha no colégio.
Eu não tinha namoradinho nenhum, óbvio. Eu era a esquisita que ia de vez em quando pra escola e ficava chorando das 13:30 às 17:30 querendo ir embora pra casa.
Mas entre uma choradeira e outra, me lembro que eu "gostava" cismava com um molequinho esquisito, loirinho e magrela que tinha um cabelo de periquito assustado tipo o Júnior Lima em 1990:

"rárárá júnior lima bububu =P" - você diria.
E eu diria: Vá zoar o padrão de beleza ideal do teu pai prq pelo menos eu não comi aquela velha gorda e torta da tua mãe!

Eu me lembro de ter escrito uma cartinha pra esse moleque, já que com 5 anos a gente tava começando a escrever e tava suuuper animado com isso, né.
(piranha arrogante mode on) Isso é pra vocês verem como eu sou uma pessoa super adiantada, né. Enquanto todo mundo escreve cartinha pra homem com uns 15 anos de idade, eu o fazia quando tinha 5. Com uns 13 eu já achava isso tudo mó coisa de criança idiota. Hunf... eu sempre fui muito a frente do meu tempo mesmo nesse mundo de meros mortais imbecis e sem cérebro. (piranha arrogante mode off)
Bom, eu sei que escrevi a porra da cartinha pro Júnior Lima desbotado: era ridícula, vergonhosa, cheia de adesivinhos e tinha todas as palavras gays que eu já tinha aprendido a escrever. Lembro que eu tava pensando em deixar na mochila dele, até que Jack Nicholson no Iluminado a encontrou enquanto revirava as minhas coisas:

- O QUE É ISSO? UMA CARTINHA?
- PRA QUEM É?
-É PRO FULANIIIINHO NÉ, NÉ? NÉEEEEEEEE?
(REDRUM?)

... E foi nesse dia que eu percebi que preferia até ser trocada pelo par em quadrilha na pré escola do que continuar a vida inteira morando com o Jack. Infelizmente eu não tive escolha, mas hoje quero lutar pelas outras crianças que podem ser poupadas das duas coisas.

Fim

Ps pra quem quer saber o final da história da cartinha: daí pra frente eu não me lembro mais o que aconteceu, mas acho que eu desisti de mandar a cartinha, afinal todo mundo ficava falando que o periquito assustado era namoradinho de uma outra menina lá da nossa sala.
Lógico, porque embora tivesse só 5 anos de idade, eu já era eu e já estava me fodendo desde cedo.

* Dr. Sala foi meu psiquiatra durante alguns anos da minha vida. Qualquer dia faço um post sobre ele.